sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Não voltar atras

«Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus.» (Lc 9,62)
Jesus já tinha tomado a decisão de iniciar a grande viagem para Jerusalém, onde deveria cumprir-se a sua missão1. Outros querem segui-lo, mas Jesus os adverte que a opção de caminhar com Ele é coisa séria. Será um caminho difícil, que vai exigir a mesma coragem e a mesma determinação dele em cumprir a vontade do Pai até as últimas conseqüências.
Ele sabe que o desânimo pode tomar o lugar do entusiasmo inicial. Foi o que ele acabou de contar, na parábola do semeador: as sementes caídas sobre as pedras "são os que ouvem e acolhem a Palavra com alegria, mas não têm raízes. Por um momento, acreditam, mas quando chega a tentação, desistem"2.
Jesus quer ser seguido com radicalismo e não somente até um certo ponto, "com um pé na frente e outro atrás". Uma vez que começamos a viver por Deus e pelo seu Reino, não podemos mais voltar para retomar aquilo que tínhamos deixado, para viver como antes, para pensar nos interesses egoístas de antes:
"Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus."
Quando Jesus nos chama a segui-lo – e todos nós somos chamados, de diferentes modos –, Ele abre diante de nós um mundo novo pelo qual vale a pena romper com o passado. Às vezes, porém, bate uma saudade melancólica que tenta nos fazer voltar atrás; ou a mentalidade comum, muitas vezes contrária ao Evangelho, se infiltra e nos pressiona.
É então que chegam as dificuldades. Por um lado, gostaríamos de amar Jesus, pelo outro, gostaríamos de ser tolerantes com os nossos apegos, nossas fraquezas, nossas mediocridades. Gostaríamos de segui-lo, mas muitas vezes somos tentados a olhar para trás, voltando sobre os nossos passos, ou dando um passo para frente e dois para trás…
Esta Palavra de Vida nos fala de coerência, de perseverança, de fidelidade. Se já tivermos experimentado a novidade e a beleza do Evangelho vivido, veremos que nada é mais contrário a ele do que a indecisão, a preguiça espiritual, a pouca generosidade, as concessões, as meias medidas. Decidamo-nos a seguir Jesus e a entrar no mundo maravilhoso que ele nos abre. Ele prometeu: "Quem perseverar até o fim, esse será salvo"3.
"Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus."
Então, o que fazer para não ceder à tentação de olhar para trás?
Antes de mais nada, não podemos dar atenção ao egoísmo – coisa que pertence ao nosso passado: por exemplo, quando não queremos trabalhar como devemos, ou estudar com dedicação, ou rezar bem, ou aceitar com amor uma situação difícil e dolorosa, ou mesmo quando vem a vontade de falar mal de alguém, de não ter paciência com um outro, de vingar-se. A essas tentações devemos dizer não, até mesmo dez, vinte vezes por dia.
Mas isso não basta. Com os "não", ninguém vai muito longe. É preciso sobretudo repetir os "sim" para aquilo que Deus quer, e aquilo que os irmãos e as irmãs esperam.
E assim teremos grandes surpresas..
Lembro aqui uma experiência pessoal.
13 de maio de 1944: um bombardeio deixou a minha casa inabitável. Eu e minha família, para nos protegermos, nos refugiamos num bosque ali perto, onde passamos a noite. Eu chorava, pois entendia que não poderia sair de Trento com os meus, que eu tanto amava: já entrevia nas minhas companheiras o Movimento nascente, e por isso não poderia abandoná-las.
O amor a Deus deveria, portanto, superar também isso? Será que eu deveria deixar os meus familiares partirem sozinhos, eu, que na ocasião era a única que os sustentava economicamente? Foi o que fiz, com a bênção de meu pai.
Mais tarde eu soube que eles tinham partido contentes, e que logo encontraram uma boa acolhida.
Procurei as minhas companheiras entre as casas e as ruas reduzidas a escombros. Graças a Deus, todas estavam vivas. E logo conseguimos uma pequena casa. Seria esse o primeiro focolare? Não sabíamos, mas foi exatamente assim.
"Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus."
Portanto, sigamos sempre em frente, rumo à meta que nos espera, mantendo o olhar fixo em Jesus4. Quanto mais nos enamorarmos Dele e experimentarmos a beleza do mundo novo ao qual Ele deu início, tanto mais aquilo que deixamos para trás perderá a sua atração.
Que pela manhã possamos repetir, ao começar um novo dia: hoje quero viver melhor do que ontem! E experimentemos contar, de alguma forma, os atos de amor feitos a Deus e aos irmãos e às irmãs, se isso puder nos servir de incentivo. À noite sentiremos o coração pleno de felicidade.

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